quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

A Flor do Cemiterio



   Diz a lenda que há um tempo atrás, numa pequena cidadezinha do interior de São Paulo, morava uma família de sobrenome Prado. Essa família era composta por quatro integrantes: Mauro, o pai, Nádia, a mãe, Marcelo, o filho mais novo e Carol, a filha mais velha e protagonista desta história. Carol era muito estudiosa e uma ótima filha, ao longo dos seus 15 anos de vida, nunca decepcionou seus pais e sempre foi uma garota exemplar. No final do ano letivo do Fundamental II, durante a festa de formatura da 8ª série, Carol foi homenageada por ser a melhor aluna da classe. Seus pais ficaram muito contentes com o resultado e têm muito orgulho da filha. Todos queriam descobrir qual era o segredo de Carol para ir tão bem nas provas.  Porém, ninguém sabia como e onde Carol estudava.


   O seu segredo, mais que particular e estranho, era estudar no cemitério. Ao final das aulas, passando despercebida, Carol se dirigia ao Cemitério Boas Almas que ficava perto da escola onde estudava e ali passava a tarde inteira relembrando e revisando o conteúdo aprendido no dia.
Foi então que em uma dessas idas ao cemitério, Carol encontrou uma flor muito bela e cheirosa deitada em um túmulo sem nome e sem recordações. Espantada com tamanha beleza e perfume vindo daquele pequeno broto, Carol decidiu terminar os estudos por ali e levar a flor para casa. O que a jovem garota não sabia é que aquele simples ato de retirar a flor do túmulo e levá-la para casa seria decisivo para o futuro de sua vida.

   Ao chegar em casa, Carol fez um lanchinho da tarde, tomou um banho e foi assistir a uma boa novela com seus pais, como fazia todos os dias. De repente, o telefone, acomodado em cima de um móvel encostado na parede da sala, tocou. Carol levantou-se do sofá e foi atender. Para sua surpresa, uma voz esquisita e tenebrosa dizia repentinamente a seguinte frase: "Devolva a minha flor... devolva a minha flor.. devolva!". De imediato, Carol não levou em consideração a tal ligação. Apenas perguntou quem estava falando, mas não foi respondida. Voltou para assistir a novela. Após alguns minutos, o telefone tocou de novo. Carol levantou-se novamente e dirigiu-se ao telefone. Para sua surpresa, novamente a mesma voz falava ao seu ouvido "Devolva a minha flor... devolva!". Carol já impaciente com a situação e imaginando ser apenas um trote, desligou o telefone. Durante o resto da noite daquele dia, Carol foi interceptada com inúmeros telefonemas da mesma voz. Resolveu comunicar os pais sobre o ocorrido. O pai Mauro não acreditou. Simplesmente deu uma bronca na filha por persistir com os estudos no cemitério. A mãe Nádia acalmou a filha e a fez esquecer. Infelizmente, as perturbações não haviam parado por aí. Enquanto Carol dormia, teve um pesadelo terrível lembrando da flor do cemitério e da voz ao telefone.
No outro dia, chegando à escola, Carol perguntou para Nayara, sua melhor amiga, se havia sido ela a autora dos telefonemas da noite anterior. Mas para tristeza de Carol, Nayara negou a afirmação para o desespero da nossa amiga estudiosa.

   Os telefonemas não paravam. Era Carol pisar em casa que o telefone começava a tocar. A situação era alarmante. Carol não mais comia, não conversava, não saía. Ficava o tempo inteiro deitada na cama, ociosa, e temendo um próximo telefonema. Seus pais, percebendo que a ocasião realmente era verdadeira, decidiram tomar algumas providências. Pediram para Carol devolver a rosa ao cemitério, mas ela a havia perdido. Foi então que Mauro foi até a delegacia conversar com o delegado sobre o caso. Enquanto Carol e sua mãe foram ao seu cemitério entregar um buquê de flores ao túmulo que tinha a rosa anteriormente para tentar cessar as perturbações.

   Nada disso adiantou. Carol estava cada vez mais desesperada e transtornada. As olheiras já faziam parte do seu rosto por causa da insônia que tinha todos os dias. A garota, que antes era exemplar e estudiosa, agora era outra pessoa. Uma pessoa triste, muitas vezes muda e infeliz. Seus pais resolveram trazer um médico para avaliá-la e possivelmente "curar" Carol desse acontecimento. E os telefonemas não paravam.

   Depois de alguns dias, o telefone tocou. Nádia foi atender. Era o Doutor que havia examinado Carol. Perguntou se tudo estava de acordo e se os telefonemas haviam parado. Nádia respondeu que sim, os telefonemas tinham cessado após a saída de Carol da casa da família.

   Até hoje, Carol não voltou para casa. Encontra-se neste momento num quarto fechado, deitada numa cama branca e com um telefone ao lado, caso toque e ela possa atender. Carol até hoje não voltou do hospício.






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