sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Minotauro

  Na mitologia grega, o Minotauro (em grego: Μῑνώταυρος; em latim: Minotaurus; em etrusco:
Θevrumineś), era segundo sua representação mais tradicional entre os gregos antigos, uma criatura imaginada com a cabeça de um touro sobre o corpo de um homem. O autor romano Ovídio descreveu-o simplesmente como "parte homem e parte touro." Habitava o centro do Labirinto, uma elaborada construção erguida para o rei Minos de Creta, e projetada pelo arquiteto Dédalo e seu filho, Ícaro especificamente para abrigar a criatura. O sítio histórico de Cnossos, com mais de 1300 compartimentos semelhantes a labirintos,já foi identificado como o local do labirinto do Minotauro, embora não existam provas contundentes que confirmem ou desmintam tal especulação. No mito, o Minotauro morre pelas mãos do herói ateniense Teseu.
   
   O termo Minotauro vem do grego antigo Μῑνώταυρος, composto etimologicamente pelo nome Μίνως (Minos) e o substantivo ταύρος ("touro"), e pode ser traduzido como "(o) Touro de Minos". Em Creta, o Minotauro era conhecido por seu nome próprio, Astérion, um nome que ele compartilhava com o pai adotivo de Minos.

   Minotauro, originalmente, era apenas utilizado como nome próprio, referindo-se a esta figura mítica. O uso de minotauro como um substantivo comum que designa os membros de uma raça fictícia e genérica de criaturas antropogênicas com cabeças de touro surgiu bem posteriormente, no gênero de ficção fantástica do século XX.


Nascimento e aparência

 
   Após assumir o trono de Creta, Minos passou a combater seus irmãos pelo direito de governar a ilha. Rogou então ao deus do mar, Posídon que lhe enviasse um touro branco como a neve, como um sinal de aprovação ao seu reinado. Uma vez com o touro, Minos deveria sacrificar o touro em homenagem ao deus, porém decidiu mantê-lo devido a sua imensa beleza. Como forma de punir Minos, a deusa Afrodite fez com que Pasífae, mulher de Minos, se apaixonasse perdidamente pelo touro vindo do mar o Touro Cretens. Pasífae pediu então ao arquetípico artesão Dédalo que lhe construísse uma vaca de madeira na qual ela pudesse se esconder no interior, de modo a copular com o touro branco. O filho deste cruzamento foi o monstruoso Minotauro. Parsífae cuidou dele durante sua infância, porém eventualmente ele cresceu e se tornou feroz; sendo fruto de uma união não-natural, entre homem e animal selvagem, ele não tinha qualquer fonte natural de alimento, e precisava devorar homens para sobreviver. Minos, após aconselhar-se com o oráculo em Delfos, pediu a Dédalo que lhe construísse um gigantesco labirinto para abrigar a criatura, localizado próximo ao palácio do próprio Minos, em Cnossos.

   Em nenhum lugar a essência do mito foi expressa de maneira mais sucinta que nas Heróidas, atribuídas a Ovídio, em que a filha de Pasífae reclama da maldição de seu amor não-correspondido: "Zeus amou Europa, como um touro, escondendo sua cabeça divina - ela deu origem ao nosso povo. Um fardo e uma punição nasceram do útero de minha mãe, Pasífae, montada por touro que ela enganou." Leituras mais literais e prurientes, que enfatizam o mecanismo envolvendo a cópula em si podem, talvez de maneira intencional, obscurescer o casamento místico do deus na forma de touro, um mythos minoico que era estranho aos gregos.

   O Minotauro costuma ser representado na arte clássica com o corpo de um homem, e a cabeça e rabo de um touro. Uma das formas assumidas pelo deus rio Aqueloo ao cortejar Dejanira é a de um homem com uma cabeça de touro, de acordo com a peça teatral Traquínias, de Sófocles.

   Dos períodos clássicos até o Renascimento, o Minotauro aparece como tema de diversas descrições do Labirinto. O relato do autor romano Ovídio sobre o Minotauro, em latim, que não elabora sobre qual metade da criatura era touro e qual era homem, foi a mais difundida durante a Idade Média, e diversas ilustrações feitas no período e depois mostram o Minotauro com uma configuração inversa em relação à sua aparência clássica: uma cabeça e torso de homem sobre um corpo de um touro, semelhante a um centauro. Esta tradição alternativa durou até o Renascimento, e ainda figura em versões modernas do mito, como as ilustrações de Steele Savage feitas para Mythology, de Edith Hamilton (1942).

Interpretações

   A luta entre Teseu e o Minotauro foi representada com frequência na arte grega. Um didracma de Cnossos exibe num lado o labirinto, e no outro o Minotauro cercado por um semicírculo de pequenas bolas, provavelmente representando estrelas; um dos nomes do monstro era Astérion, "estrela" em grego antigo.

   As ruínas do palácio de Minos, em Cnossos, foram descobertas, porém nenhum labirinto foi encontrado ali. O número enorme de aposentos, escadas e corredores do palácio fez com que alguns arqueólogos sugerissem que o próprio palácio teria sido a fonte do mito do labirinto, uma ideia que geralmente é desacreditada nos dias de hoje.[16] Homero, descrevendo o escudo de Aquiles, comentou que o labirinto seria um recinto para as danças cerimoniais de Ariadne.

   Alguns mitólogos modernos veem o Minotauro como uma personificação solar, uma adaptação minoica do Baal-Moloch dos fenícios. A morte do Minotauro por Teseu, neste caso, indicaria o rompimento das relações tributárias de Atenas com a Creta minoica.

   De acordo com o estudioso britânico A. B. Cook, Minos e o Minotauro são apenas duas formas diferentes do mesmo personagem, que representa o deus-sol dos cretenses, que retratavam o sol na forma de um touro. Tanto Cook quanto o antropólogo escocês J. G. Frazer explicaram a união de Pasífae com um touro como uma cerimônia sagrada, na qual a rainha de Cnossos se casava com um deus em forma de touro, da mesma maneira que a esposa do tirano em Atenas havia se casado com Dioniso.

   O arqueólogo francês Edmond Pottier, que não discute a existência histórica de Minos, a partir da história de Fálaris, considera provável que em Creta (onde pode ter existido um culto aos touros, juntamente com o do labrys) uma forma de tortura era trancar as vítimas dentro da barriga de um touro de bronze incandescente. A história de Talo, o homem de bronze cretense, que se deixava em braza e abraçava os estrangeiros assim que eles pisavam na ilha, provavelmente teria origem semelhante.

   Uma explicação histórica do mito se refere ao período em que Creta era a principal potência política e cultural do mar Egeu. À medida que a cidade de Atenas (e provavelmente outras cidades gregas continentais) pagavam tributo a Creta, pode-se assumir que este tributo incluía jovens de ambos os sexos, destinados ao sacrifício ritual. A cerimônia era executada por um sacerdote que utilizava uma máscara ou cabeça de touro, o que explicaria então o imaginário relacionado ao Minotauro. Este sacerdote também poderia ser filho de Minos.

   Com a Grécia continental livre do domínio cretense, o mito do Minotauro teve como papel distanciar a incipiente consciência religiosa das poleis helenas das crenças minoicas.


O Minotauro no Inferno de Dante

   O Minotauro, a infamia di Creti, aparece brevemente no Inferno de Dante, em seu canto 12, 11-15, onde, abrindo caminho entre rochedos espalhados por uma encosta, e preparando-se para entrar no Sétimo Círculo, Dante e Virgílio, seu guia, encontraram a criatura pela primeira vez entre aqueles que foram amaldiçoados por sua natureza violenta, os "homens de sangue", embora seu nome não seja citado até o verso 25. Com a lembrança provocante, feita por Virgílio, do "rei de Atenas", o Minotauro se ergue, enfurecido, e distrai os centauros que guardam o Flegetonte, "rio de sangue", permitindo assim que Virgílio e Dante passem rapidamente por eles. Esta associação pouco típica do Minotauro com os centauros, que não é feita em qualquer outra fonte clássica, é mostrada visualmente na ilustração da criatura feita por William Blake como uma espécie de centauro taurino.








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