domingo, 17 de janeiro de 2016

A origem do Lobisomem


   Na Grécia, o rei Lycaon tentou matar Zeus. Em outra lenda, Lycaon fez um sacrifício humano e a ira divina recaiu sobre ele. Ou Lycaon serviu a Zeus carne humana. Ou ainda Lycaon sacrificou ao deus o seu próprio filho. Em todas essas lendas, o final é o mesmo. O rei foi transformado para sempre em lobo como castigo. Mas se não se alimentasse de carne humana por dez anos, recuperaria o aspecto de homem.

   No século I, na Roma de Nero, Tito Petrônio Arbiter escreve o Satíricon. No capítulo LXII, Niceros, no banquete de Trimalcion, relata a história do soldado que se transforma em lobo. Este é o mais antigo registro existente, em literatura erudita, da história do Lobisomem. Nessa história  traduzida para o francês por M. Héguin de Guerle, Niceros narra a sua saída com um soldado, e seu companheiro; "em certa noite de Lua, tão clara como se fosse o meio-dia. Puseram-se a caminho ao primeiro canto do galo. Ao fim de uma estrada encontraram-se entre sepulturas. Subitamente, começou o soldado a conjurar os astros. Depois, despiu-se e colocou as roupas junto à estrada. Em seguida, urinou à volta delas e, nesse instante, transformou-se em lobo. Pôs-se então a uivar e embrenhou-se na mata. As suas vestes tornaram-se em pedras. Niceros, apavorado, saiu correndo e chegou à casa de Melisse. Esta, espantada por vê-lo ali a desoras, disse-lhe que, se tivesse chegado um pouco mais cedo, teria sido de grande valia; pois um lobo penetrara no curral e degolara todos os carneiros. Uma verdadeira carnificina! Mas, embora tivesse escapado, fora gravemente ferido no pescoço, por um criado. Intrigado e horrorizado, e como o dia já vinha clareando, voltou rapidamente pelo mesmo caminho. Ao passar pelo lugar onde as roupas haviam-se transformado em pedra, verificou que ali só restava sangue. Entrando no alojamento, encontrou o soldado estendido na cama; sangrava abundantemente e um médico o atendia, tentando estancar a hemorragia do pescoço. Foi então que percebeu tratar-se de um Lobisomem."

   Nos primórdios da era cristã, tanto Ovídio como Petrônio registraram que o Lobisomem era fruto de penitência, de castigo, ou era uma transformação voluntária e temporária, como acontecera ao soldado da história.

   Passagens bíblicas também relatam a transformação em lobo, como foi o caso do Rei Nabucodonosor que foi castigado a vagar em forma de lobo por Deus, há também passagens como em Deuteronômio. "Mandarei contra vós as feras do campo, que devorarão vossos filhos e matarão vossos animais. (Levítico. 26.22.)

   Mas se percebermos, todos foram na Europa. e nas Américas? aqui está nosso grande desfecho. a crença de lobos e homens já existia entre as tribos indígenas americanas, muito antes do contato com o povo Europeu. na América do norte, os licantropos eram controlados e ajudados por feiticeiros das tribos, na América do sul, não existiam lobos, então eles difundiram a crença de homens que se tornavam criaturas parecidas, e tinham a função de proteger as tribos e as florestas dos maus espíritos.
"na noite corre o ser da floresta, o protetor das águas, temente ao fogo, e fiel a tribo, homem com aparência de chacal. Kanima, solto, uiva pelas perdas, e rosna pela bravura que corre em suas veias.

   Outro conto, um dos mais antigos escritos conhecidos "A Epopéia de Gilgamesh", é um candidato provável. Nele, Gilgamesh recusa-se a ser amante da deusa Ishtar por causa do comportamento cruel dela com os seus pretendentes anteriores. Ishtar transforma um pastor de ovelhas, em um lobo, fazendo-o inimigo de seus amigos, de suas ovelhas e até mesmo de seus próprios cães.


   Ambos os escritos anteriores são antigos e sugerem que a ideia de homens se transformando em lobos tem habitado o mundo desde os primórdios da civilização humana. Além de antiga, a ideia é amplamente difundida. Na maioria dos lugares, se um lobo vive ou viveu em uma região particular, os contos folclóricos dessa região incluem os lobisomens. Nas regiões onde não existem lobos, as histórias falam de pessoas que se transformam em outros animais carnívoros. Histórias vindas de partes da África (em inglês) falam de pessoas que se transformam em hienas ou crocodilos. Nos contos folclóricos chineses, as pessoas se transformam em tigres, e em histórias japonesas, elas viram raposas. Algumas histórias russas descrevem pessoas que se transformam em ursos.

   Em todas essas histórias, os mutantes tendem a provocar medo. Tal medo surge de três fontes principais:

   O animal que a pessoa se torna é um carnívoro poderoso, grande - ele é assustador mesmo sem intervenção sobrenatural;
Ao sofrer a transformação, a pessoa vira algo que amedronta, não tendo como escapar;
Se a licantropia for transmitida por uma mordida, a vítima enfrenta a ameaça contínua de sofrer espantosas transformações indefinidamente se sobreviver ao encontro.

   A maioria das pessoas já ouviu algo sobre a caça às bruxas do século 16. Bem menos conhecida é a caça aos lobisomem que aconteceu no mesmo período. Uma crença comum era de que os lobisomens viravam sua pele ao avesso para retornar à forma humana, assim uma prática de investigação surgiu envolvendo a retirada e a colocação de volta da pele de uma pessoa para ver se havia mais pele por baixo.



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